Tratamento
O emprego de medicamentos para tratamento da obesidade foi
durante muitos anos duramente criticado pela imensa maioria
da classe médica, inclusive e principalmente pelos endocrinologistas,
existindo um grande preconceito contra os médicos que receitavam
qualquer tipo de medicamento para a obesidade.
Hoje este quadro tem evoluido,
havendo uma maior aceitação pela classe médica da necessidade
de algumas vezes se lançar mão de tal recurso.
Ainda hoje, no entanto, ainda há dois tipos de conduta
opostas, a meu ver radicais, aqueles que nunca receitam
medicamentos e aqueles que os receitam em todos os casos
. A meu
ver ambas as posições estão erradas, pois hoje é aceitável, a prescrição de medicamentos para
os paciente obesos com IMC acima de 30, ou em pacientes
na qual a obesidade é tão patológica que o benefício supera
as contraindicações dos mesmos. Já existe, inclusive aqueles
que preconizam o tratamento do obeso morbido a vida toda
com algum tipo de medicamento. Esta nova posição, afirma que a obesidade
é uma doença grave, e deve ser tratada como tal.
Se outras patologias crônicas tais como o Diabetes,
Hipertensão, Cardiopatias, etc, são tratadas com medicamentos
(e muitos com graves efeitos colaterais, e nem por isto
deixam de ser prescritos), porque não tratar a obesidade
com remédios? .Na minha experiência de 26 anos com
anorexígenos por exemplo, foram RARÍSSIMOS os casos de efeitos
colaterais graves, apenas os habituais, tais como boca seca,
leve taquicardia, etc. Sabemos
que os medicamentos existentes ainda não são os ideais,
e é necessário que a medicina aprofunde as pesquisas para
descobrir medicamentos mais eficazes, e deixar-mos
de tratar os obesos como glutões irresponsáveis e culpados
eternos de seu próprio infortúnio.
Medicamentos
Anorexigenos:
Os anorexígenos são erroneamente confundidos com a Anfetamina, na verdade esta nem é fabricada no
Brasil, e tem apenas em comum com os anorexígenos o núcleo Fentermina.
As principais indicações para o uso de anorexigenos são:
1-
Presença de hábitos alimentares claramente patológicos,
tais com bulemia, hiperfagia, e compulsão alimentar.
2-
Incapacidade de ingerir dietas hipocalóricas para
que haja uma redução do peso.
3-
Obesidades mórbidas,
com risco para o paciente
4-
Paciente com IMC acima de 30 Kg/m2
5-
Paciente com IMC acima de 25 Kg/m2 com associação
com alguma doença como o Diabetes, dislipidemias e hipertensão
arterial
6-
Tratamentos ineficazes com dieta, exercícios ...etc.
Dietilpropiona:
É o anorexígeno mais comumente utilizado
no Brasil. Age
como neurotransmissor da noradrenalina, e é a nosso ver
o mais potente anorético.
Age nos núcleos hipotalâmicos laterais inibindo a
fome. Tem um potencial de dependência, mas em nossa experiência
vimos pouquíssimos casos . Observamos que ao longo do tratamento,
apresenta uma queda da atividade anorexiante com o passar
do tempo.
Os efeitos colaterais mais comuns
podem ser: boca seca, constipação intestinal,
irritabilidade, insônia e mais raramente taquicardia e hipertensão
arterial.
Femproporex:
Também é um anorexígeno
de ação semelhante a Dietilpropiona.
Age através de inibição do centro da fome hipotalâmico,
tendo a noradrenalina como neurotransmissor.
Seus efeitos colaterais geralmente são menos intensos
que os da Dietilpropiona.
.Os efeitos presentes tais como boca seca, insonia
e irritabilidade, geralmente são mais leves.
Nos casos de pessoas idosas, cardiopatas
e hipertensos que necessitam de medicação anorexiante é
um dos produtos de nossa escolha.
Mazindol:
Se o Femproporex e a Dietilpropiona não
são anfetaminas, o Mazindol muito menos,
pois tem uma ação totalmente diversa dos outros anorexigenos.
Enquando aquelas substâncias agem através da síntese
ou da liberação da Noradrenalina, o Mazindol
age inibindo a recaptação da Noradrenalina nas teminações
nervosas.
Neste sentido este teria a vantagem
de continuar atuando mesmo após um longo tempo, ao contrário
dos outros anorexígenos anteriores que tem sua ação limitada
elo exaurimento da reserva de noradrenalina
É possível que o Mazindol tenha
sua ação no sistema límbico e não no hipotálamo.
Outra possibilidade também é que o ele atue via dopamina.
Independente de sua atuação, é
um bom anorexigeno, que no entanto tem
sua utilização limitada pelos efeitos colaterais que provoca.
Além da boca seca, a obstipação
intestinal é quase certa. .Alguns pacientes
relatam quadro depressivo, sensação de desconforto, agitação
intensa e um sintomas semelhantes a um quadro de pânico....
Medicamentos Serotoninérgicos
São medicamentos que atuam aumentando a saciedade, isto
é, a pessoa ficaria satisfeita logo com menor quantidade
de comida ingerida, voltando a ter fome em um período mais
longo que o usual. Tem também um
efeito sobre a compulsão alimentar que é um distúrbio alimentar
muito comum em mulheres.
Femfluramina e D-Fenfluramina:
Estes medicamentos serotoninérgicos foram recentemente retirados
do mercado pela possibilidade de provocarem lesões de válvulas
cardíacas. Por isto não vale a pena comentários a respeito
destes fármacos.
Fluoxetina
e Sertralina:
São antidepressivos,
que podem fazer diminuir o peso pela ação eminentemente
serotoninérgica.
Ainda não são reconhecidos pelas autoridades sanitárias
como tendo indicacão para o tratamento da obesidade.
.Seus efeitos, na nossa experiência são fracos e
passageiros sobre o hábito alimentar. .Pessoalmente os indicamos para paciente que tem
ou já fizeram tratamento anteriores para depressão,
para os quais o uso de anorexigenos é formalmente contraindicado.
Sibutramina:
A Sibutramina foi o último grande lançamento da indústria
farmacêutica de medicamentos com ação sobre o sistema nervoso
central. .Tem
tanto uma ação serotoninérgica , inibindo a recaptação da
serotonina e também um efeito catecolaminérgio.
O primeiro efeito promove um aumento da sensação
da saciedade agindo também sobre a compulsão alimentar e, o
segundo, um
efeito inibidor na sensação de fome e aumento na queima de calorias.
Efeitos colaterais:
são poucos, geralmente cefaléia, obstipação intestinal, boca seca e insonia.
Pode haver um aumento da pressão arterial e recomenda-se
cuidado na sua administração para indivíduos cardiopatas
e hipertensos. Não é derivado anfetamínico e segundo a literatura
não há risco de dependência química. Ainda não há estudos
sobre sua ação sobre crianças e adolescentes.
Por precaução ainda não é indicado sua prescrição
para pacientes com menos de 18 anos de idade.
Até o presente os estudos não mostraram nenhum efeito
sobre as válvulas cardíacas.
No
Brasil é vendido nas farmácias nas apresentações de 10 e
15 mg, com os nome comerciais de Reductil e Plenty.
Medicamentos Termogênicos:
São medicamentos que incrementam a queima calórica e tendem
portanto a promover a perda de peso. As substâncias mais
conhecidas são:
Fenilpropanolamina:
Efedrina
Aminofilina
Cafeína.
São medicamentos raramente usados na prática clínica, e
quando usados, o são, como coadjuvantes de outros medicamentos
devido a seus efeitos colaterais frequentes que são a taquicardia,
hipertensão arterial e estimulo ao SNC.
INIBIDORES DA ABSORÇÃO INTESTINAL DE GORDURAS
No momento contamos como representante deste grupo, com
o Orlistat (Xenical) que atua inibindo a ação da
lipase pancreática, e provocando com isto uma redução em
cerca de 30 % na absorção total de gordura ingerida em uma
refeição.
Pelo seu próprio mecanismo de ação
o efeito colateral mais comum é o aumento da freqüencia
de evacuações e dependendo do volume de gordura ingerida
a diarréia intensa.
Tem também um efeito hipolipemiante
o que seria teoricamente benéfico para os pacientes portadores
de hiperlipidemias.
Os defensores de seu uso,
preconizam que o mesmo teria também um efeito educativo
para quem faz uso do mesmo, já queos pacientes aprenderiam
a comer e identificar os alimentos que contenham indices
altos de gordura em sua composição.
Se tomado por um tempo prolongado
é recomendável que seja feito uma reposição de vitaminas
lipossolúveis.
Para
quem receitar?
Quais
os criterios de escolha de um ou outro medicamento?
Seguimos a orientação recomendada pela ABESO (Associação
Brasileira de Estudos da Obesidade).
Pacientes de hábito alimentar compulsivo: isto é , pacientes que beliscam o
dia todo e que comem devido a um estado crônico de ansiedade,
seria mais indicados os medicamentos do Grupo serotoninergico
( Fluoxetina e Sibutramina)
Pacientes com hiperfagia
prandial: isto é, pacientes que comem em grandes
volumes nas principais refeições,
indicamos os medicamentos do grupo dos anorexigenos
(Femproporex, Dietilpropiona
ou Mazindol)
Uso do Orlistat
Xenical : é mais útil em pacientes que se alimentam
em horários regulares, pois o seu mecanismo de ação se dá
nas gorduras ingeridas em uma determinada refeição. O Orlistat
pode ser administrado como medicação principal ou em associação
com medicamento anorexigeno ou serotoninérgico.
Finalmente deixo aqui registrado
as palavras do Professor Alfred Halpern:
A obesidade é, na
maioria das vezes, doença crônica que, portanto exige
tratamento crônico.
Sendo assim, há grande possibilidade de que haja
necessidade permanente de utilização de medicamentos
anti-obesidade em muitos indivíduos
E é aí, no balanço entre indicação
e possíveis riscos, que deve se basear o julgamento do médico
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